Artigo Publicado no
Jornal A TARDE, Salvador – Bahia, em 27.02.2012.
Bahia e o Mercosul
Ângelo Pitombo
Professor de Direito Tributário,
Doutorando em Direito.
A Argentina, que ocupava a terceira posição, passou em 2011 a ser
o país de maior destino das exportações baianas, com 13,25% de participação, seguido
dos Estados Unidos com 13,21% e da China com 13,20%, segundo dados da
Secretaria de Planejamento da Bahia. A relevância da Argentina pode ser percebida
quando se verifica, no mesmo período, que 92,62% das exportações baianas para o
Mercado Comum do Sul – Mercosul foram destinadas a esse país.
Em 2011,
contudo, as travas de importações, utilizadas pelo governo argentino, centradas
em trâmites burocráticos, de parte e peças automotivas, maquinários agrícolas e
outros produtos, resultaram, em alguns casos, na demora de cinco meses para
liberar as exportações brasileiras, conforme destaca o atual Adido Tributário
da Embaixada do Brasil na Argentina. Tais restrições foram amenizadas com as
dificuldades impostas pelo Brasil para as importações de automóveis daquele
país.
De acordo
com artigo publicado em 15 de janeiro de 2012, pelo Jornal “LA NACION ”, intitulado “Intervencionismo asfixiante”, o governo
argentino vem exigindo de suas empresas importadoras a contrapartida nas
exportações de igual valor, a ponto de fabricantes de maquinários, por exemplo,
terem que exportar vinhos, azeitonas ou arroz para equilibrar a balança
comercial.
Chama a
atenção, o aludido artigo, que, através da resolução número 3252 da AFIP,
equivalente em muitas funções ao Ministério da Fazenda brasileiro, o governo
argentino imporá restrições a todas as importações, através de consulta prévia,
“não havendo dificuldades em imaginar
como serão rigorosas tais verificações, implementadas com o claro objetivo de
retardar os procedimentos burocráticos”.
Independente
da relação conflituosa entre o Jornal LA NACION e o Governo da Presidenta Cristina Kirchner,
deve-se observar que a política de inserir travas nas importações pela Argentina,
mesmo após o Tratado de Assunção, vem se acentuando com manifestações não só do
Brasil, como do Paraguai, Uruguai e Chile, todos, inclusive a Argentina, preocupados
com a criação e manutenção de postos de trabalho.
As
exportações baianas para o mercado argentino, apesar do aludido artigo, podem,
no entanto, prosperar ainda mais nos próximos anos, pois além de culturalmente
a Argentina não ter o costume de observar o Brasil através de seus Estados,
devido à própria característica centralizadora de seu federalismo - o que resulta
em uma oportunidade para aprofundar essas relações -, as importações da China
pelos parceiros do Mercosul serão sobretaxadas em 2012 até 2014, conforme acordado
na 42ª Cúpula do Mercosul, através do aumento da Tarifa Externa Comum (TEC), que
deve passar em média de 13% para 35%, incidindo sobre uma lista de produtos importados
de países não pertencentes ao bloco.
Conforme
estudos da Secretaria de Planejamento da Bahia, o crescimento da economia
argentina favorece também às exportações baianas, havendo possibilidades de se
ampliar ainda mais as vendas especialmente nas áreas de produtos
eletroeletrônicos, equipamentos e peças para indústria automotiva, calçados,
madeiras beneficiadas, material esportivo, móveis, produtos cerâmicos, soja e
derivados, sucos e frutas, confecções e preparações de peixes e crustáceos.
É preciso
realçar, não obstante, a clara preocupação dos países membros do Mercosul com a
força da economia brasileira, especialmente agora alçada ao 6º lugar entre as economias
do mundo. Como evidencia a criação do Fundo de Convergência Estrutural em 2004, a assimetria entre as economias da região é sem
dúvida acentuada e certamente maior do que em 1991, quando foi assinado o
Tratado de Assunção. Assim, é razoável concluir que se faz necessária a
abertura de novos canais e intensificação dos já existentes para intermediar as
relações comerciais entre a Bahia e os membros do Mercosul, especialmente a
Argentina, até porque diante da crise econômica pela qual passa a União
Européia, não seria descabido imaginar uma redução no crescimento das
exportações do mercado baiano para o aludido bloco econômico.
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